10/26/2019 12:00:00 AM

Crítica: Pacarrete

Pacarrete
Imagem: Divulgação

Poucos cinemas são tão variados quanto o brasileiro e com um povo tão miscigenado quanto o nosso, fica fácil encontrar campo para criar um argumento e escrever um roteiro.

Allan Deberton foi até a cidade de Russas, interior do Ceará, para filmar "Pacarrete". O filme dirigido e escrito por ele, conta a história da personagem título, interpretada por Marcélia Cartaxo, uma bailarina já na terceira idade que tem um sonho: se apresentar na festa de 200 anos da cidade onde vive.
Assim, ela ensaia, faz seu vestido, cuida da irmã e...limpa a calçada de sua casa todos os dias. O filme tem muitos planos abertos e enquadramentos que aproveitam o máximo que o widescreen pode oferecer e também expõe a solidão da personagem.

Essa por sua vez tenta fugir dessa solidão usando a arte e por isso age de forma tão otimista, por mais que não seja perfeita, reparem como ela trata com grosseria as pessoas ao seu redor, com exceção de Miguel (João Miguel).

O otimismo da personagem faz com que o filme fale sobre sonhos e sobre como é difícil para todos nós mantermos o nosso sonho vivo e que é possível sonhar e ter fé em qualquer momento da vida. Acredito que isso justifique a direção nostálgica de Deberton, que faz com que o público se identifique com a personagem através da saudade que ela sente de sua juventude e isso também funciona em relação a cor usada.

Que são cores quentes, sempre passando a sensação de calor, de inclusão, seja pelo tom amarelo que domina os quadros, ou pelo laranja, rosa, branco e vermelho que estão presentes no figurino de Pacarrete. Essas cores estão presentes mesmo em momentos tristes, o que demonstra o otimismo da personagem e a fé que ela tem no sonho da apresentação por mais que ela seja triste em certas ocasiões.

Como, por exemplo, limpando a calçada, já que isso pode ser interpretado como a insistência dela na perseverança do sonho, ela sempre varre a calçada da mesma forma que ela sempre luta pelo o que quer, inclusive, essas cenas lembram muito vaudevilles, um estilo de entretenimento característico da França, país pelo qual a personagem é apaixonada.

Por isso a atuação de Marcelia Cartaxo é essencial e excelente, já que permite ao espectador deduzir tudo e até mais coisas sem nenhum problema. Além disso, é difícil não sentir empatia pela personagem, principalmente quando ela diz "Eu grito tanto que ninguém me ouve". Pois todo mundo quer ser ouvido, todo mundo tem sonhos e se identificar com Pacarrete pode ser devido a algo do nosso presente ou devido a uma perspectiva pessimista de futuro.

É a identificação, aliada a bela direção e a uma bela atuação que fazem de "Pacarrete" um grande filme, em um ano excelente para o cinema nacional.

Veja o trailer aqui:

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