10/25/2020 12:00:00 AM

Crítica: Cidade Pássaro

Cidade Pássaro
Imagem: Vitrine Filmes / DIVULGAÇÃO

Procurar alguém em uma cidade como São Paulo, mesmo alguém que você conhece, mesmo você mesmo, é algo extremamente difícil, seja no ponto de vista estrutural (São Paulo é gigantesca) ou no aspecto psicológico. A mente é um labirinto tão grande quanto as ruas da cidade.

Assim, Amadi, um imigrante nigeriano que vêm a São Paulo procurar o irmão, Ikenna, está em uma busca complexa por autoconhecimento, por um lugar para chamar de seu, para reconstruir uma família quebrada e para encontrar, em São Paulo, uma saída para o labirinto da mente.

Matias Mariani, diretor e um dos roteiristas deste “Cidade Pássaro”, consegue estabelecer todas essas buscas e permitir que o público reflita sobre a opulência de uma grande cidade, usando para isso a história de Amadi e enquadramentos que destacam o céu da cidade, seus prédios altos e seus habitantes, pequenos, dentro desses prédios.

Pequenos como Amadi se sente, não que ele seja, porém, o personagem assim como nós está presente em outras pessoas, nos pensamentos e na vida do outro. Por vivermos em uma sociedade, é inevitável que façamos parte das pessoas que conhecemos durante a vida e é ainda mais inevitável que nos tornemos um amalgama uns dos outros.

Como se fossemos pássaros, voando de um lado para outro e compartilhando, inconscientemente, nossas vidas com o outro. Amadi compartilhou toda a sua trajetória com o irmão: tem a mesma idade, ambos viajaram ao Brasil, fizeram o mesmo caminho, conheceram as mesmas pessoas e foram aos mesmos lugares na cidade.

Então, a busca por autoconhecimento de Amadi também é uma busca por liberdade, pelo querer e ter o direito de ficar sozinho, como uma música que é cantada no filme diz “ele aprendeu a voar, mesmo sem asas”, no caso do protagonista desse filme, ele precisava voar para dentro de si mesmo, para assim poder alçar voos mais distantes para outros locais.

Ao encaixar essa história dentro da rotina de uma grande cidade, Mariani consegue, ao mesmo tempo mostrar essa busca de seu protagonista e expor como São Paulo é uma cidade construída por imigrantes nigerianos, húngaros, asiáticos e nordestinos. Todos eles refugiados dentro da cidade, a construindo do zero, por mais que o pensamento eurocêntrico busque nos fazer acreditar no oposto.

Imigrantes que como pássaros fizeram sua diáspora e chegaram a um lugar desconhecido, para construir algo do zero e logo após terminarem, irem para outro lugar recomeçar, ou morrerem, como é o ciclo natural da vida, que todos nós respeitamos.

Assim como Amadi, um pássaro que de certa forma, termina sua diáspora e já entra em uma nova viagem, sozinho? Talvez, pleno de seus conhecimentos? Sem dúvida, um pássaro na cidade grande precisando de sorte, assim como todos nós e é isso que faz de “Cidade Pássaro” um grande filme.

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