10/24/2020 12:00:00 AM

Crítica: Irmã

 

Irmã
Imagem: DIVULGAÇÃO

Dadas as devidas proporções, “Irmã” dirigido e escrito por Luciana Mazeto e Vinicius Lopes, lembra “Melancolia” de Lars von Trier. Uma história que trabalha com o fim do mundo, que relata a trajetória de duas irmãs em uma jornada (física e psicológica) e com similaridades de estilo.

Porém, o diferencial de “Irmã” para o filme de von Trier é justamente o fato do filme falar de liberdade, pois, dentro da jornada de Ana e Júlia há a jornada de luta contra o conservadorismo e contra o patriarcado, que no filme está representado pela cidade pequena onde a viagem começa (de certa forma) e pelo pai das duas garotas.

A viagem começa na cidade pequena porque essa trajetória é muito mais metafórica do que factual. Devido a problemas de saúde da mãe, Ana e Júlia precisam ir viver com o pai em uma cidade do interior, enquanto isso, a terra se depara com a ameaça iminente de um asteroide, que está prestes a bater no planeta em qualquer momento.

Se o asteroide em “Melancolia” representa a depressão, aqui representa a mudança das garotas em ir morar com o pai e a morte da mãe, ou seja, uma mudança de vida. A diferença entre um e outro está na relação entre as duas irmãs, já que Ana e Júlia claramente se amam e tem uma relação saudável e Charlotte Gainsbourg e Kirsten Dunst no filme de 2011 tem uma relação mais fria.

Em compensação, o ar onírico que vemos em “Irmã” são os sonhos que as duas têm com a mãe ao se lembrar de algo pertencente a personalidade desta, como uma música que ela gostava ou algo que ela falou para as filhas em algum momento. Podemos ver essa aproximação e lembranças das irmãs com a mãe na cena das duas juntas debaixo do lençol e comparando com “Melancolia”, as cenas de Kirsten Dunst com o seu sobrinho.

Talvez, o espectador encontre problemas em compreender determinadas coisas de “Irmã”, por mais que elas estejam claras (ao meu ver pelo menos), o filme deixa muita coisa para que o público descubra por si só, o que por um lado é ótimo, pois demonstra que Mazeto e Lopes acreditam na inteligência de quem assiste, por outro lado, pode ser que prejudique a experiência.

Mas, nada que estrague toda a construção realizada em relação a luta por liberdade, emancipação e principalmente, na relação das duas irmãs, que, se um asteroide acabou com os dinossauros no passado, outro asteroide acabou com o mundo em “Melancolia”, aqui nem ele pode acabar com o amor que uma irmã sente pela outra, o que torna o primeiro longa de Luciana Mazeto e Vinicius Lopes um relato muito bonito.

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