Imagem: DIVULGAÇÃO |
Porém, o diferencial de “Irmã” para o filme de von Trier é
justamente o fato do filme falar de liberdade, pois, dentro da jornada
de Ana e Júlia há a jornada de luta contra o conservadorismo e contra o
patriarcado, que no filme está representado pela cidade pequena onde a viagem
começa (de certa forma) e pelo pai das duas garotas.
A viagem começa na cidade pequena porque essa trajetória é muito mais metafórica do que factual. Devido a problemas de saúde da mãe, Ana e Júlia precisam ir viver com o pai em uma cidade do interior, enquanto isso, a terra se depara com a ameaça iminente de um asteroide, que está prestes a bater no planeta em qualquer momento.
Se o asteroide em “Melancolia” representa a depressão, aqui
representa a mudança das garotas em ir morar com o pai e a morte da mãe, ou
seja, uma mudança de vida. A diferença entre um e outro está na relação entre
as duas irmãs, já que Ana e Júlia claramente se amam e tem uma relação saudável
e Charlotte Gainsbourg e Kirsten Dunst no filme de 2011 tem uma relação mais
fria.
Em compensação, o ar onírico que vemos em “Irmã” são os
sonhos que as duas têm com a mãe ao se lembrar de algo pertencente a
personalidade desta, como uma música que ela gostava ou algo que ela falou para as filhas em algum
momento. Podemos ver essa aproximação e lembranças das irmãs com a mãe na cena
das duas juntas debaixo do lençol e comparando com “Melancolia”, as cenas de
Kirsten Dunst com o seu sobrinho.
Talvez, o espectador encontre problemas em compreender
determinadas coisas de “Irmã”, por mais que elas estejam claras (ao meu ver pelo
menos), o filme deixa muita coisa para que o público descubra por si só, o que
por um lado é ótimo, pois demonstra que Mazeto e Lopes acreditam na inteligência
de quem assiste, por outro lado, pode ser que prejudique a experiência.
Mas, nada que estrague toda a construção realizada em
relação a luta por liberdade, emancipação e principalmente, na relação das duas
irmãs, que, se um asteroide acabou com os dinossauros no passado, outro asteroide
acabou com o mundo em “Melancolia”, aqui nem ele pode acabar com o amor que uma
irmã sente pela outra, o que torna o primeiro longa de Luciana Mazeto e
Vinicius Lopes um relato muito bonito.
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