10/27/2020 12:00:00 AM

Crítica: O livro dos prazeres

O livro dos prazeres
Imagem: DIVULGAÇÃO 

Muitas pessoas usam o autoisolamento como modo de proteção, não porque seja o caminho correto, mas sim, por que é o caminho mais fácil a percorrer. Vejamos, se você tenta viver e recebe em troca, dor, causada por você em decorrência de fatos externos e em outros casos, causadas em você por outros, porque não seguir o caminho do isolamento?

Uma das filhas de uma família rica, formada, professora e... triste. Essa é a personagem de Simone Spoladore, Lori, em o “O livro dos prazeres”. Acompanhamos sua trajetória contra a solidão e o isolamento no qual entrou por livre e espontânea vontade.

É fácil se identificar com Lori, por mais que a maioria das pessoas que vejam esse filme não façam parte do mesmo grupo social que ela (mulher branca, rica, letrada), a empatia é criada a partir da solidão que ela sente e da vida automatizada que ela vive. Ela usa a rotina regrada (dadas as devidas proporções) para tentar fugir da ansiedade que a impede de dormir, por exemplo e da solidão que a impede de viver.

Por isso, o sexo que ela faz com homens que conhece pouco, o existencialismo que usa nas aulas para sua turma de crianças e até mesmo o apartamento grande e vazio que herdou da mãe, não representam o que ela é e são ferramentas que ela usa para fugir de si, mesmo que essa fuga seja por um breve momento.

Sendo assim, é difícil eu não ter me identificado com a personagem, pois uso muitas coisas para fugir de mim mesmo e de minha solidão, logo, ao ver a câmera com o ângulo mais aberto, mostrando aquela vista muito bonita do apartamento da protagonista, penso que ela, assim como eu, está pensando no vazio daquilo e tentando encontrar, dentro daquele vazio, algo para se agarrar, quando isso não acontece, ela cai no limbo e recorre a rotina automatizada citada acima.

Ou seja, tanto Marcela Lordy, quanto Clarice Lispector (cuja obra baseia esse filme), falam da busca do ser humano por liberdade e principalmente, por autoconhecimento. Se Lori tem na sua relação de amizade (com forte tensão sexual) com Ulisses um desafio na sua frente, pois ele é extremamente sincero e até mesmo arrogante, ela também tem uma ferramenta para sair da solidão na qual se colocou por autoproteção.

Autoproteção que Simone Spoladore passa muito bem no seu trabalho, principalmente por ela transmite na sua expressão, os motivos de ter se isolado não só da dor, mas também das pessoas. Um irmão controlador, um pai que votou errado (bela sacada de Lordy, inclusive, em atualizar o livro base) e ainda por cima, a morte da mãe, a levam a uma solidão latente, além de, claro, não ser de todo independente, mas isso entra também em sua solidão e ansiedade.

Por mais que o final seja otimista, Lori sabe e quer esquecer que sabe, que o que aconteceu de bom também é efêmero e, principalmente, que aquela solidão que ela sente vai voltar, porque esse tipo de sentimento nunca sai da gente de todo, ela ainda é triste, mas pelo menos vai ter breves momentos de felicidades, só é uma pena que assim como o filme, ele acaba, como toda capa de livro, inclusive do “Livro dos prazeres”, fecha.

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