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É simbólico pensar que devido a arte, o autor dessa nunca
morrerá, mesmo depois que ele morre. Graças ao trabalho que fica, o autor ou autora
sempre estará presente no imaginário das pessoas, principalmente das pessoas
que conheceram o autor ou autora, ou melhor, que conviveram com ele.
“Eu imagino um jantar, onde eu não estou lá, mas as pessoas
não sabem que estou vivo, em Hong Kong, em um belo apartamento”. Imaginar isso
é ter, de certa forma, fé, crença de viver um pouquinho mais, mesmo quando tudo
indica que isso não vai acontecer. Se imaginar vivo, um jantar do seu próprio velório,
talvez seja a maior prova da vontade de viver de Hector Babenco.
Vontade de viver que é desconexa, abstrata, assim como o documentário que Barbara Paz dirigiu, “Babenco: Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou” cria várias narrativas com base na morte inevitável de seu protagonista e na fé inabalável que ele tinha de viver um pouco mais, de ter mais uma refeição, de fazer mais um filme.
Essa desconexão é proposital, uma ferramenta usada por Paz para que o espectador entenda a beleza de sua homenagem ao marido. Se estamos
vendo algo que parece um pesadelo, é porque Babenco passou por uma série de
pesadelos devido ao câncer, ao mesmo tempo em que, se estamos ouvindo ele falar que precisava fazer mais um filme, é porque ele acreditava que viveria mais
um pouco.
Acreditar é essencial e é bonito ver como Paz retrata
Babenco acreditando que seu ciclo ainda não tinha acabado, da mesma forma que
voltamos sempre a simbolismos de que a morte não é o fim e nunca será. Pois se
manter ativo como Babenco fez, indica que ele continuaria respirando até quando
aguentasse.
Não a toa, a música que começa o filme é “Exit Music (for a film)” da banda Radiohead, onde em certos momentos, Thom Yorke canta “Breathe, keep breathing”
(Respire, continue respirando) e no refrão, o mesmo Yorke fala “Now, we are one,
in a everlasting peace” (agora somos um, numa paz eterna).
Babenco continuou respirando, até que ele e a morte virassem
um e ele finalmente chegasse a paz eterna, porém, o que fica, são seus filmes,
que sempre continuarão respirando e talvez, levando o público a um tipo de paz
que apenas o cinema pode trazer.
Porque, na verdade, a morte do Babenco é apenas para gente, que fica e observa, mas sabemos que, não só ele continuou respirando, mas que nós estamos em um jantar, sem saber que ele está vivo, enquanto ele está em Hong Kong, morando em um belo apartamento e provavelmente ensinando alguém a abrir e fechar a câmera pelas ruas da cidade asiática, onde mais uma pessoa se une a desconexão com sentido que só o cinema é capaz de proporcionar.
Eu já me imaginei , vendo uma situação em que eu não estouais vivo. Estranho, sinistro , dolorido , não sei dize.r Fui tocado pelo texto .
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