1/08/2018 01:05:00 PM

Crítica: Três Anúncios para um Crime

Três Anúncios para um Crime
Imagem: Fox Film do Brasil / Divulgação
Ao contar uma história de justiça com as próprias mãos, vingança por um fato ocorrido com alguém querido, ou apenas um filme do gênero policial focando em uma investigação, uma linha tênue pode ser ultrapassada, tornando o filme episódico, previsível e com os finais típicos da indústria.

Logo, a decisão de Martin McDonagh em relação ao final de “Três Anúncios para um Crime” é algo ousado e inovador, ao decidir deixar seu terceiro ato aberto para as possibilidades de um aprofundamento nunca cumprido, a obra é diferente aí, porém também é assim em vários outros pontos de sua narrativa.


Protagonizado por Frances McDormand (“Fargo – Uma Comédia de Erros”), ela é Mildred Hayes, mãe solteira, residente da pequena cidade de Ebbing, Missouri. Há um ano atrás, sua filha foi estuprada e morta e para piorar, a policia da cidade parou de investigar o caso devido a falta de pistas. Ao ver três outdoors sem serem utilizados na entrada da cidade, ela os aluga e usa eles para cobrar a policia de forma que eles deem continuidade a investigação.

O principal no filme não são seus aspectos técnicos, como estrutura, fotografia e afins, mesmo que eles sejam altamente competentes, porém, a mensagem passada pela obra, de como o abuso de poder da polícia é nocivo, como uma cidade pode ser a favor ou contra algo e como a justiça com as próprias mãos significa a atitude de uma sociedade altamente agressiva e extremista, e sem dúvida, como podem parar uma investigação de um crime como esse?

Porque bom, Mildred é uma mulher agressiva e extremista, e devido ao que aconteceu com a sua filha, os motivos são certos, porém algumas das atitudes tomadas não são, logo, a projeção mostra como as pessoas podem ser boas ou ruins, todos tem vários lados, basta saber qual lado cada pessoa revela na outra.

Dixon (Sam Rockwell) é o exemplo do filme de mudança, o desenvolvimento do personagem, que vai de um policial racista para um outro tipo de pessoa – não totalmente integra, mas ainda assim melhor que antes – é um dos pontos altos da obra, junto com a atuação de McDormand, talvez uma das melhores de sua carreira, onde o ódio fica transparecido no seu olhar o tempo todo, mesmo em momentos de carinho com o filho, sendo que até esse carinho é agressivo, servindo para expor como a morte da filha a mudou, e a cena dela, onde ocorre a conversa com o padre, é um resumo disso.

Agora, tudo isso aliado a uma bela fotografia, montagem e roteiro bem escrito, ajuda no ritmo da narrativa e em como o público entende a projeção e as mensagens reflexivas – brevemente citadas acima – que o filme quer passar.

A fotografia usa de ambientes claros, na sua maioria com luz natural, para iluminar seus personagens, muitas vezes deixando os personagens enquadrados no contraluz – a cena onde McDormand está sentada olhando pela janela da loja onde trabalha – e também servindo para vermos exatamente as imperfeições no rosto da atriz, expondo como a personagem parou de se cuidar após o trágico fato.

Sabemos desse “descuido” devido a montagem, que aposta em uma cena ocorrida no passado, para explicar o futuro, e essa única parte quebra a estrutura tradicional de “Inicio – Meio – Fim”, trazendo a diferença estilística tão necessária para o filme do gênero policial / ação. E o roteiro permite que não tenha brechas nem na história e nem na estrutura, tornando a projeção redonda, sem brechas e com imprevisibilidades surpreendentes no seu decorrer.

Logo, “Três Anúncios Para um Crime” é ousado, contando uma história infelizmente muito próxima a todos, e tendo uma grande atuação de uma atriz acima da média, conhecedora dos personagens que interpreta e dominante na tela. Um dos grandes policiais dos últimos anos, sem nenhuma dúvida. 

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