2/01/2018 12:48:00 PM

Crítica: A Forma da Água

A Forma da Água
Imagem: Fox Film do Brasil / AdoroCinema.com / Divulgação


A empatia, assim como o amor, atinge qualquer um, e é justamente isso que faz o sentimento ser tão bonito, o fato de que não importa o acontecido, sempre terão pessoas dispostas a amar e a se importar um com o outro, no mundo onde vivemos, isso é essencial para manter a esperança.

“A Forma da Água” é um filme sobre amor, empatia e como esses sentimentos são pertencentes a todos, a mais nova obra de Guillermo Del Toro (“O Labirinto do Fauno”), tem seu foco nessas sensações encaixadas em um mundo permeado pela expectativa de uma guerra entre duas grandes potencias.


Sally Hawkins é Elisa, uma mulher que não fala devido à ausência das cordas vocais, vivendo nos EUA na época da Guerra Fria, ela trabalha como faxineira em um local militar norte-americano, junto com Zelda (Representada por Octavia Spencer). Com a chegada de uma criatura aquática no local de trabalho (criatura representada por Doug Jones), e ao se apaixonar por esta, Elisa decide tirá-la dali, para isso ela pede ajuda para seu melhor amigo, Giles (interpretado por Richard Jenkins).

Del Toro é excelente em criar histórias sentimentais utilizando a fantasia como plano de fundo e nunca como o ponto principal, e nessa projeção, ele usa a câmera e sua personagem principal para entendermos o amor que ela sente pela criatura e também como ela faz para conquista-lo.

A câmera está quase sempre em movimento, remetendo a água, que se move mesmo não sendo estimulada a fazê-lo, de maneira natural. Natural como Elisa vendo filmes e escutando música, aproveitando a vida e tentando fazer dela algo um pouco menos solitário. Ao utilizar a arte que ela é apaixonada para atrair a criatura, vemos como o poder da arte é infinito, atraindo qualquer um, prendendo a atenção, imergindo pessoas em um mundo cheio de possibilidades.

Logo, o fato de ela morar exatamente acima de um cinema, mostra como Del Toro não apenas utiliza a criatura para expor o poder da arte, mas também faz uso de sua personagem principal, que mesmo sem conseguir falar e portanto não conseguir cantar (ela gosta muito de música), aproveita o cinema, imitando os passos de sapateado no corredor, e cantando através de sinais, esta sendo uma das cenas mais sensíveis do filme.

Sensíveis como as atuações de Sally Hawkins e Doug Jones. Hawkins conquista logo de cara, em sua primeira cena, ao vermos como ela leva a vida com otimismo, utilizando a arte (como já dito acima) e a esperança de uma vida menos solitária, a atriz nem precisa da fala para se expressar, seu olhar é suficiente, é possível identificarmos sorrisos pelo olhar dela, raiva pelos passos, determinação e medo pela união dos passos e do olhar, tudo isso unido na sensibilidade do próprio filme.

Jones faz a criatura ser extremamente convincente, com seus barulhos agressivos, a maneira de andar quando fora d’água e assim como Hawkins, pelo olhar, pelo qual percebemos como o sentimento dele por ela é tão real quanto o dela por ele, tornando ainda mais fácil a identificação com o relacionamento.

Michael Shannon, como Strickland, é um vilão necessário para a trama, pelo patriotismo exacerbado e pela necessidade de matar a criatura apenas por beneficio próprio. Stuhlbarg se dá bem como o cientista, mostrando que há empatia mesmo quando tudo contribui contra isso, Jenkins conquista como o melhor amigo de Elisa, e mostra como sempre foi difícil ser você mesmo, independente da época.

Não foi apenas a criatura que foi bem caracterizada, toda a construção da época foi muito bem-feita, além do que, Elisa também é uma personagem bem construída, fisicamente falando (pois o psicológico foi descrito acima), desde a maneira dela de andar, calma mas sempre segura, mesmo tendo medo, até as cicatrizes que ela carrega no pescoço, sempre visíveis e essenciais, porém discretas.

Apesar de todas essas qualidades e do roteiro soberbo, o filme poderia ter começado de maneira diferente, pois sua primeira cena nos dá uma pista muito grande do destino de alguns personagens, e não há a menor necessidade da narração em off na cena inicial e na final apenas, a obra é forte o suficiente para andar sozinha, isso pode ser prejudicial em relação a estrutura. Acrescento a isso o fim da obra, pois esse não foge do tradicional, do clichê, e pode ser adivinhado com uma certa antecedência. 

Mesmo assim, “A Forma da Água” comove, convence, emociona, traz duas atuações de alto calibre e mostra como a arte pode conquistar e como as pessoas podem ser boas e manter suas esperanças mesmo em um mundo dominado pelo ódio (ou pela expectativa dele). Basta querer.  

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