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Imagem: DIVULGAÇÃO |
Paul Schrader e Martin Scorsese, dois grandes nomes do
cinema norte americano, contribuíram para a arte com filmes incríveis, como
“Taxi Driver”, “Touro Indomável” e “A Última Tentação de Cristo”, sempre com o
primeiro sendo roteirista e o segundo na direção.
O último filme citado no paragrafo acima, como o novo
filme de Schrader, também diretor, tem uma semelhança essencial, a desconstrução
de figuras religiosas, no caso do filme que é assunto dessa crítica, isso
ocorre através dos efeitos que as palavras podem ter nas pessoas.
“First Reformed” conta a história do reverendo Toller – interpretado
pelo ótimo Ethan Hawke – que após ministrar um culto em uma das igrejas mais
antigas dos Estados Unidos, é abordado por Mary (Amanda Seyfried). Ela lhe pede
que converse com seu marido Michael, ambientalista e ativista, devido a
problemas psicológicos, assim, a relação entre eles se desenvolve.
Schrader cria uma obra que é sobre culpa e sobre as palavras
que podem construir essa culpa e mesmo com a toda luta interna de cada um de
nós, nunca conseguiremos saber o que o outro passa, logo, por mais que meçamos
nossas palavras, todas as relações são arriscadas.
O reverendo Toller é uma dessas pessoas, ele sente culpa
e desespero, disfarçando isso para viver em sociedade, usando a religião como
apoio e o trabalho como forma de esquecimento, mesmo que ele nunca se esqueça
de dois fatos – relevantes ao filme e que não contarei para evitar spoilers –
que são os originadores da culpa.
Ele se sente preso, por isso a proporção do filme é a de
1:33, para mostrar o sentimento de solidão, combinado a claustrofobia pela qual
ele passa em todo momento, tanto nos cultos, quando ele olha frequentemente
para baixo evitando o olhar das poucas pessoas ali, quanto em casa, onde ele fica
em apenas um cômodo, sendo que este possivelmente é o menor da residência.
Ao mesmo tempo em que ele busca o paraíso, esta procura é frequentemente
reforçada graças ao brilhante roteiro de Schrader, que trabalha bem as culpas e
os caminhos percorridos por Toller para se aliviar delas, desde a bebida, até o
diário e claro, na figura de Mary, uma mulher na qual o reverendo vê uma amiga
e também a figura de uma santa.
Isso é perceptível graças aos enquadramentos e aos
figurinos, em relação aos quadros, a proporção citada acima, quando a
personagem é mostrada com a câmera em frente a ela, vemos o plano que remete
aos das santas, algo similar foi feito em “mãe!” de Aronofsky, emoldurando a
personagem e os figurinos usados são roupas que em sua maioria tem capuz, usando
este como uma espécie de véu em dado momento.
Como acompanhamos a história pelo ponto de vista de Toller,
através do diário dele, fica claro que houve uma idealização da figura de Mary,
que vai se desconstruído na medida que Toller vai sendo mais sincero com ele
mesmo, principalmente em relação a não se cuidar e ao filho deste – sobre esse
último tópico, veja o filme.
E a busca dele pelo paraíso passa a ocorrer com mais força
na medida em que as palavras vão surtindo efeito sobre a culpa que ele sente, a
mudança que ele tenta fazer passa a ser irrelevante e o apoio firme que o
sustentou por tanto tempo passa a quebrar de forma gradativa, porém cruel.
Tudo isso fica muito exposto pela atuação brilhante de Ethan
Hawke, onde vemos sua constante luta no olhar, a luta interna dele se torna visível
quando a necessidade de mudança invade sua vida de maneira abrupta, levando
mais desespero do que antes. A cena do Magical Mystery Tour serve como resumo desse
ponto, mostrando o que Toller sente, sentiu e o que quer sentir, desconstruindo
assim a figura do reverendo bem resolvido, algo similar ao que Bergman fez em
Luz de Inverno (1963).
Porém, se Toller faz algo bem, é usar esse desespero para encontrar
a esperança, como ele mesmo diz em certo momento, assim mantendo sua jornada
interna para encontrar o céu particular, este pode ser o fim definitivo ou o
reencontro com o amor.
Assim e com um final aberto brilhante que envolve essa
jornada, Schrader tem em “First Reformed” um dos melhores filmes de sua carreira,
que será melhor compreendido quanto mais ser assistido, aumentando o mistério e o impacto em relação a trama e claro, conquistando o espectador graças a pessoalidade e
empatia contidas nos dois personagens centrais.
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