10/07/2019 12:00:00 AM

Crítica: Greta

Greta
Imagem: Pandora Filmes / Aline Belfort / DIVULGAÇÃO
Todo mundo quer amar e ser amado, por mais que isso seja difícil e que talvez até consigamos em algum período da vida, essa é uma vontade que pode ser considerada universal. As vezes amamos quem nunca irá nos corresponder, as vezes amamos por querer ser apoiar em algo e as vezes amamos como maneira de encontrar refúgio.

Acredito que esse último caso seja o de Pedro (Marco Nanini) em “Greta”, dirigido e escrito por Armando Praça. Um enfermeiro de 70 anos, homossexual, descobre que sua amiga Daniela (Denise Weinberg) está prestes a morrer e decidiu não realizar tratamentos para impedir isso, ao mesmo tempo, ele decide abrigar em sua casa um criminoso, Jean (Démick Lopes, de “Inferninho”). Pedro nutre uma admiração pela atriz Greta Garbo, a qual ama incondicionalmente.

Esse amor é mostrado não apenas por Pedro falar “me chame de Greta Garbo” várias vezes em situações sexuais diferentes, mas também por ele citar a atriz em muitos dos diálogos, mas, uma frase é a preferida dele, “i want to be alone”, eu quero ficar sozinho na tradução.

Isso expõe a multiplicidade do personagem, pois se tem algo que ele não quer é ficar sozinho, ou se ele quer, ele não consegue viver sozinho, o que mostra como a decisão de Praça de deixar o filme sem trilha sonora musical e com a câmera parada (o que coloca o primeiro plano como dominante no filme) foi correta.

Ambas as decisões tornam o filme naturalista, cru e universal. A história de amor ali relatada poderia acontecer em qualquer lugar, com qualquer pessoa e em qualquer tempo e valorizam as atuações do elenco, principalmente de Nanini, que aproveita os primeiros planos, a câmera próxima, para transmitir emoção e a necessidade do seu personagem de amar e, claro, o medo de viver sozinho pelo resto da vida.

Esse medo é bem retratado pelas cores, os tons mais sóbrios dominam, mas o vermelho, o roxo e o amarelo estão presentes, sempre atrás do quadro, como se a felicidade já estivesse ali, mas que Pedro não saiba alcançá-la, assim como a maioria das pessoas.

Os tons sóbrios representam a solidão na qual estamos imersos, o preto e o cinza, assim como os sons do ambiente – em geral, sons rotineiros, como barulho de talheres, som da tv, do chuveiro – representando uma rotina bem restrita, por mais que o personagem tente viver e quebrar isso.

Pois, se “Greta” mostra algo é que pessoas mais velhas ainda vivem e são capazes de viver sem maiores problemas. Pedro tem uma casa, um trabalho no qual é bom, vida social e desejos, levando em consideração que viver é difícil e que ter desejos e sonhos é mais difícil ainda, o filme se torna esperançoso, apenas pela simples empatia em mostrar que é possível.

Essa empatia também pode ser vista na admiração do personagem por Greta Garbo, cujo amor ele usa de refugio e até mesmo, baseia a vida dele nas atuações e na vida pessoal de Garbo, o que além de mostrar conhecimento por parte de Praça e de Nanini – o primeiro por conceber esse roteiro naturalista, o segundo por ser a força motriz do roteiro – mostra como nós temos vontade de esquecer nós mesmos sempre que pudermos.

Mas, se para esquecer nós mesmos, nós precisamos superar a necessidade de amar, essa tarefa se torna impossível, Pedro tem dois amores, Jean e Greta Garbo, o público também tem amores e espero sonhos e desejos possíveis. “Greta” mostra que nunca é tarde para sonhar, por mais que seja uma tarefa difícil a realização do sonho.

Uma das melhores estreias em direção do ano de 2019.

Veja o trailer, filme distribuído pela Pandora Filmes:

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