Quem me conhece sabe, além de um apaixonado por cinema, sou um fã do cinema nacional. Apesar do que muitas pessoas pensam, o cinema daqui é riquíssimo, abordando nossa cultura variada de formas diferentes. Tivemos grandes diretores, como Glauber Rocha, Ruy Guerra, Nelson Pereira dos Santos.
E, felizmente, ainda temos grandes realizadores por ai, como
Fernando Meirelles, Kleber Mendonça Filho, Anna Muylaert, e vários outros. Após
este breve panorama, destaco que hoje é dia do Cinema Brasileiro e aproveito
para listar alguns dos meus filmes preferidos.
Deus e o
Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha:
“Um dia vai ter uma
guerra maior nesse sertão. Uma guerra grande, sem a cegueira de Deus e o Diabo.
E para que essa guerra comece logo, eu, que já matei Sebastião, vou matar
Corisco. E depois morrer de vez, que nós somos tudo uma mesma coisa”.
Essa fala, de Antônio das Mortes, é uma dessas que resume um
filme. “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, foi dirigido por Glauber Rocha a
partir de seu lema “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”. Um dos principais
nomes do Cinema Novo, aqui, conta a história de Manuel, que revoltado contra o
abuso do Coronel Moraes, acaba por mata-lo em uma briga. Após isso, começa a
ser perseguido por jagunços, assim, ele foge com sua mulher e se junta ao beato
Sebastião e seus seguidores, até que, Antônio das Mortes, a serviço dos
latifundiários, passa a perseguir esse grupo.
Como é possível perceber, vários grupos culturais
brasileiros são abordados na história do filme,
fazendo com que a obra se torne
um retrato da sociedade e um estudo de personagem rico, já que, por mais
surpreendente que possa parecer, a história principal aqui não é a de Manuel, e
sim, a de Antônio das Mortes.
Edifício
Master, de Eduardo Coutinho:
Eduardo Coutinho é sem dúvidas, o maior documentarista que o
Brasil já teve, colocando em seus filmes, todo o tipo de pessoa, e usando da
pluralidade do povo brasileiro como assunto de suas histórias.
Edifício Master é justamente um filme sobre as variações que
existem em nosso povo. A obra explora os vários andares do edifício, localizado
no Rio de Janeiro. Entrevistando múltiplas pessoas, conseguimos ver como todos
nós somos diferentes, ao mesmo tempo em que somos iguais e que devemos nos
respeitar. O estudo apresentado no filme é atual, pois permite ver como nós
sempre não enxergamos o outro, mesmo quando é necessário, e assim, percebemos
que não é culpa da tecnologia o fato de não nos importamos com o próximo, é
culpa de todas as pessoas.
Central do Brasil, de Walter Salles:
“Tenho saudade do meu
pai, tenho saudade de tudo.”
Mais uma daquelas frases que resumem os filmes. Nesse caso,
essa foi dita por Fernanda Montenegro, em uma das atuações mais lindas já
vistas. Ela vive Dora, após encontrar Josué na Central do Brasil, e descobrir
que a mãe do menino faleceu, embarca em uma busca para levar a criança até seu
pai.
No decorrer da obra, vemos elegância, tanto tecnicamente,
quanto nas atuações soberbas de todo o elenco. Graças a esses aspectos, o filme
se torna um ensaio sobre a migração, e também sobre os efeitos que essa causa
nas pessoas, no funcionamento da sociedade e claro, na vivencia que temos com
todo mundo.
A projeção foi indicada ao Globo de Ouro, levando o premio
de melhor filme estrangeiro e de melhor atriz, e foi indicada ao Oscar de
Melhor Atriz, infelizmente sendo derrotada.
Aquarius, de Kleber Mendonça Filho:
Lançado no Festival de Cannes de 2016, e concorrendo a Palma
de Ouro em um ano muito bom para o festival (Tivemos também “Toni Erdmann” e
“Eu, Daniel Blake” na disputa, com o premio indo para o ultimo), o filme de
Kleber Mendonça Filho traz um resumo do Brasil em uma época de crise politica.
A obra conta a história de Clara, interpretada por Sonia
Braga, que, sempre morando em um apartamento no Edificio Aquarius, que fica em
frente a praia de Boa Viagem, enfrenta uma imobiliária querendo comprar o lugar
que lhe abriga. Ela é a ultima moradora do prédio, o que faz com que diversas
atitudes duvidosas sejam tomadas para força-la a sair dali.
Clara é uma síntese do povo brasileiro, sendo forte,
inteligente, espirituosa e divertida, a mulher luta com tudo o que pode para
manter o lugar, onde diversas lembranças a fazem lembrar uma vida vivida com
intensidade.
“Aquarius” mostra que precisamos lembrar e respeitar o
passado para conseguirmos construir um futuro melhor. E convenhamos, um filme
com uma mensagem desta nos tempos de hoje, tem que ser valorizado.
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