Imagem: Universal Pictures / Divulgação |
Bons filmes de suspense e terror são especialistas na criação de expectativas, e principalmente, no cumprimento delas, isso faz a obra ter sucesso em duas tarefas distintas, porém ligadas: dar ao espectador o que ele quer (o terror, suspense, medo) e ter uma obra tecnicamente competente nas mãos do diretor e roteirista.
Esses dois cargos são cumpridos pela mesma pessoa no caso de
“Corra”, Jordan Peele. No seu longa de estreia, a história contada é a de Chris
(Daniel Kaluuya), fotografo, homem negro e bem-sucedido, que namora uma branca,
chamada Rose (interpretada por Allison Williams). A jovem leva seu namorado
para conhecer seus pais, na casa onde cresceu, e é lá onde os eventos principais
do filme se desenrolam.
A projeção tem grandes pontos técnicos, que são de fato
aquilo a se destacar no filme, junto com a discussão sobre racismo, inerente a
uma obra como esta, e Peele tem aqui um de seus dois grandes acertos, fazer de
“Corra” um filme sobre o racismo da sociedade, e fazer isso de maneira propositalmente
agressiva e claro, atual.
Porque bom, se pararmos para pensar, tudo que se passa no
filme já aconteceu em algum momento na história, a festa (ou “festa”) é como se
fosse a venda de negros para brancos na época da escravidão, e essas aconteciam
em praça pública, assim como o aspecto esportivo apresentado (“meu pai era
atleta, perdeu nas olimpíadas de 1936”, “Ah,
para Jesse Owens”) e também a questão da troca de nomes, algo comum no
período escravista, personificado na figura de Logan (representado por Lakeith
Stanfield), sem esquecer, é claro, do namoro entre um negro e uma branca.
O segundo grande acerto de Peele, foi o roteiro, que não
apresenta brechas para questionamentos em nenhum momento, ou seja, não há ponto
sem nó, o cervo atropelado é o mesmo que está empalado no porão, sendo esse o
exemplo mais claro do filme, nada fica sem ser explicado, desde uma motivação
simples, até mesmo toda a questão mental, focada na psiquiatria, que está
embutida em "Corra!".
As atuações também merecem destaques, principalmente a de
Kaluuya, que passa o tempo inteiro a insegurança de seu personagem, a
desconfiança com tudo que estava acontecendo e a esperança de sair dali. Além
da performance de seu protagonista, outra merecedora de destaque é a de
Catherine Keener, na figura de Missy Armitage, psiquiatra e a mãe de Rose,
transmitindo frieza, calculismo e claramente sendo a chefe de todo o esquema
arquitetado pela família.
Mesmo com as qualidades, que são inúmeras, o terror físico em si
demora muito a acontecer, levando em consideração a duração de uma hora e
quarenta e quatro minutos, e apenas 30 minutos da expectativa sendo cumprida,
pode levar o espectador ao tédio, porém, nesse caso, é só pensar no terror
ocorrido antes disso, o do racismo, de pessoas sempre simpáticas, felizes e de
bem com a vida, mas na verdade, essas mesmas pessoas usam dessa alegria de
viver como uma ferramenta de agressão, podendo ser considerado passivo
agressivo.
Podendo ter uma duração maior, para estruturar melhor
a divisão entre terror físico e psicológico e não fugindo do final clichê, “Corra!”, é um ótimo longa de
estreia de Jordan Peele, mostrando estilo em sua direção, inteligência ao
escrever um roteiro sem nenhuma margem para erro e levando a público uma
discussão necessária e convenhamos, sempre presente em nossa sociedade, mesmo
que as pessoas a ignorem, tentem esquece-la ou fingir que não existe.
O filme não chega a ser ruim, mas demorou para apresentar a história em si. Para um filme que foi vendido como terror psicológico demorou muito para chegar as cenas assustadoras.
ResponderExcluirSem falar que algumas cenas deram um tom de comédia para o tipo do filme.
Acho justa a classificação de 3 estrelas.