1/22/2018 05:08:00 PM

Crítica: Corra!

Corra!
Imagem: Universal Pictures / Divulgação

Bons filmes de suspense e terror são especialistas na criação de expectativas, e principalmente, no cumprimento delas, isso faz a obra ter sucesso em duas tarefas distintas, porém ligadas: dar ao espectador o que ele quer (o terror, suspense, medo) e ter uma obra tecnicamente competente nas mãos do diretor e roteirista.

Esses dois cargos são cumpridos pela mesma pessoa no caso de “Corra”, Jordan Peele. No seu longa de estreia, a história contada é a de Chris (Daniel Kaluuya), fotografo, homem negro e bem-sucedido, que namora uma branca, chamada Rose (interpretada por Allison Williams). A jovem leva seu namorado para conhecer seus pais, na casa onde cresceu, e é lá onde os eventos principais do filme se desenrolam.



A projeção tem grandes pontos técnicos, que são de fato aquilo a se destacar no filme, junto com a discussão sobre racismo, inerente a uma obra como esta, e Peele tem aqui um de seus dois grandes acertos, fazer de “Corra” um filme sobre o racismo da sociedade, e fazer isso de maneira propositalmente agressiva e claro, atual.

Porque bom, se pararmos para pensar, tudo que se passa no filme já aconteceu em algum momento na história, a festa (ou “festa”) é como se fosse a venda de negros para brancos na época da escravidão, e essas aconteciam em praça pública, assim como o aspecto esportivo apresentado (“meu pai era atleta, perdeu nas olimpíadas de 1936”, “Ah,  para Jesse Owens”) e também a questão da troca de nomes, algo comum no período escravista, personificado na figura de Logan (representado por Lakeith Stanfield), sem esquecer, é claro, do namoro entre um negro e uma branca.

O segundo grande acerto de Peele, foi o roteiro, que não apresenta brechas para questionamentos em nenhum momento, ou seja, não há ponto sem nó, o cervo atropelado é o mesmo que está empalado no porão, sendo esse o exemplo mais claro do filme, nada fica sem ser explicado, desde uma motivação simples, até mesmo toda a questão mental, focada na psiquiatria, que está embutida em "Corra!".

As atuações também merecem destaques, principalmente a de Kaluuya, que passa o tempo inteiro a insegurança de seu personagem, a desconfiança com tudo que estava acontecendo e a esperança de sair dali. Além da performance de seu protagonista, outra merecedora de destaque é a de Catherine Keener, na figura de Missy Armitage, psiquiatra e a mãe de Rose, transmitindo frieza, calculismo e claramente sendo a chefe de todo o esquema arquitetado pela família.

Mesmo com as qualidades, que são inúmeras, o terror físico em si demora muito a acontecer, levando em consideração a duração de uma hora e quarenta e quatro minutos, e apenas 30 minutos da expectativa sendo cumprida, pode levar o espectador ao tédio, porém, nesse caso, é só pensar no terror ocorrido antes disso, o do racismo, de pessoas sempre simpáticas, felizes e de bem com a vida, mas na verdade, essas mesmas pessoas usam dessa alegria de viver como uma ferramenta de agressão, podendo ser considerado passivo agressivo.


Podendo ter uma duração maior, para estruturar melhor a divisão entre terror físico e psicológico e não fugindo do final clichê, “Corra!”, é um ótimo longa de estreia de Jordan Peele, mostrando estilo em sua direção, inteligência ao escrever um roteiro sem nenhuma margem para erro e levando a público uma discussão necessária e convenhamos, sempre presente em nossa sociedade, mesmo que as pessoas a ignorem, tentem esquece-la ou fingir que não existe. 

Um comentário:

  1. O filme não chega a ser ruim, mas demorou para apresentar a história em si. Para um filme que foi vendido como terror psicológico demorou muito para chegar as cenas assustadoras.

    Sem falar que algumas cenas deram um tom de comédia para o tipo do filme.

    Acho justa a classificação de 3 estrelas.

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