3/16/2020 12:00:00 AM

Crítica: Vaga Carne + Sete anos em Maio

Essa crítica é de dois filmes devido ao fato dos médias metragens serem exibidos na mesma sessão nos cinemas brasileiros. 
Vaga Carne
Imagem: DIVULGAÇÃO / Embaúba Filmes
Vaga Carne:

Se o cinema é uma união entre artes, no caso a fotografia e o próprio cinema, "Vaga Carne", sem dúvida oscila entre cinema, literatura e teatro, já que originalmente, o média metragem é a transposição da peça teatral de mesmo nome e de autoria de Grace Passô.

Dirigida e escrita por ela e Ricardo Alves Jr, protagonizada por Passô, acompanhamos a história de uma voz, isso mesmo, uma voz que entra em tudo que é existente e acaba de entrar no corpo da atriz principal, dando início a um monólogo reflexivo.

Por ser uma reflexão e não uma história linear, o média se torna subjetivo, o que fará as pessoas terem uma leitura diferente umas das outras. Assim, o que é dito pela Voz pode representar várias coisas. Entre elas, a ansiedade, aquela voz que fica na cabeça das pessoas o tempo todo e que não é, nada mais, nada menos, do que a nossa voz, o que representa a dificuldade ininterrupta de lidar com nós mesmos.

Isso faz com que uma das leituras do filme seja que é uma obra sobre presença, tanto da física, quanto da verbal e mental, o que faz a atuação de Passô ser essencial para o andamento da trama, já que é a partir dela que percebemos o ritmo da montagem (de Gabriel Martins) e da efemeridade de tudo.

Assim, "Vaga Carne" é um filme sobre coisas vagas, efêmeras e sobre sensações que todos nós sentimos em algum momento de nossas vidas e não sabemos lidar com elas. Todos temos a Voz protagonista do filme.

Sete anos em maio
Imagem: DIVULGAÇÃO / Embaúba Filmes
Sete anos em maio:

Se tem algo que "Sete anos em maio" é, é real, já que vemos na tela, um homem contar o que sofreu em uma noite, há anos atrás, após chegar do trabalho. Uma história cruel, no caso a de Rafael dos Santos Rocha.

Rafael foi torturado pela polícia após ser abordado aleatoriamente. Acompanhamos a história dele, que conta para o público toda a sua trajetória de vida, não apenas o fato que originou o filme.

Dirigido por Affonso Uchôa (um dos diretores de Arábia), o filme conta a história de forma estática no que diz respeito à técnica. A câmera parada enquadra unicamente Rafael, que conta a sua história olhando diretamente para o público.

Além do enquadramento lembrar alguns dos enquadramentos usados em "Arábia", o filme é quase todo feito em uma tomada só, com a câmera parada já citada, o que faz a obra ser um experimento interessante de estudo.

Pois, se o audiovisual tem como objetivo mostrar algo acontecendo, ao invés de contar apenas com a fala de alguém, "Sete anos em maio" usa só a fala para contar a história, depende exclusivamente do texto.

O que funciona pela história ser real e infelizmente atual, além de ser filmado todo em cenas externas e noturnas (cena, no caso), o que é difícil devido a capacidade de manter o controle na direção, mas que Uchôa faz sem problema algum.

Assim, "Sete anos em maio" se apoia na empatia do público para funcionar, pois, caso o espectador não se ponha no lugar do outro, é provável que ele se disperse fácil devido ao experimento visual que é feito.

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